A questão é: o que é a sensibilidade? Para sermos sensíveis, receptivos, temos que desenvolver a capacidade de compaixão pelos que sofrem, ter a capacidade de afeição, e principalmente desenvolver uma consciência do que se passa ao nosso redor. Prestamos atenção ao outro? Conseguimos observar o sofrimento dos pobres e dos idosos pisados e dominados pelos que exploram? Será que somos sensíveis aos acontecimentos que estão acontecendo debaixo dos nossos narizes?
Ao se deparar com uma senhora entrar no ônibus, será que fingimos estar dormindo ou oferecemos o nosso lugar a ela? Isto sim implica em sensibilidade. Toda a sensibilidade é anulada quando nos tornamos disciplinados, quando ficamos com medo ou quando nos preocupamos unicamente com a nossa pessoa, com a nossa aparência, e a maioria de nos ficamos com o coração fechado e aí se perde toda a capacidade de apreciar o que é lindo.
Para estarmos livres, em todo o sentido da palavra, devemos ter primeiramente uma grande sensibilidade. Ao nos isolar nas imitações, como quase tudo o que fazemos na vida, perdemos a sensibilidade e a liberdade.
A inteligência tem que prevalecer, e para que isso possa acontecer, é responsabilidade de todos lançar uma semente, a tão falada e pouquíssimo encontrada semente da liberdade.
Só de posse dessa inteligência é que poderemos encarar os problemas vitais da humanidade.
Segundo Duarte Jr., o homem começou a sua dessensibilização após o início da era industrial. Se por um lado a automatização trouxe uma comodidade às pessoas, por outro, nota-se uma robotização psicológica geral. Desde a tenra infância somos forçados a acreditar em um modelo de ser humano imposto pela mídia, forçando-nos a perder a sensibilidade e a individualidade, e adotar esse modelo padrão de felicidade ideal que todos devem seguir. Parece-me muito importante que tenhamos consciência do paradoxo que a sociedade nos impõe, pois enquanto enfatiza através dos meios de comunicação o modo como devemos viver, o carro e o celular que devemos comprar, o cigarro que devemos fumar, as facilidades que devemos ter para conseguir uma vida próspera, ao mesmo tempo a dificulta silenciosa e invisivelmente, barrando de muitas maneiras o ingresso da pessoa humana nesta terra prometida. Enquanto a própria sociedade desestabiliza o ser humano fazendo surgir diversas formas de patologias, elimina locais aonde ele poderia encontrar algum tratamento de apoio, marginalizando e jogando nas ruas este ser humano que não tem possibilidades monetárias.
Nos pós modernidade, o sistema econômico tira proveito desse fato, deixando o sujeito com a autoestima doente e competitiva. Existe uma corrida à estética e o culto desenfreado ao corpo, demonstrando um complexo de superioridade em alguém que nunca soube encontrar seu valor a não ser o prazer em se comparar com o outro. “A certeza de algo íntimo e inviolável parece ser não apenas rara, mas também uma das coisas mais elitistas do ponto de vista psicológico. Quem detém tal privilégio? Talvez aqueles que reneguem a competição e que fazem um esforço para utilizarem suas habilidades não apenas para si próprios”. A problemática da manutenção de uma boa auto-estima, é ter que ficar frente a frente com conflitos diariamente do meio em que convivemos. Nosso medo à solidão e abandono, leva a desistir facilmente de um ideal ou meta estabelecida.
Segundo Zago (2003), esse processo é inconsciente. A pessoa não sabe por que está agindo assim, sente-se angustiada, dores no peito, vontade de chorar, vazio, fica deprimida, etc. Frequentemente culpam os outros pelos seus erros, e as críticas são vistas como ataques pessoais, ficam dependentes de relações doentias. A pessoa com baixa estima sente intensa necessidade de agradar, nunca consegue dizer “não”, sempre está em busca de aprovação e reconhecimento, não se sente importante para si mesma. Por causa disso se abandona cada vez mais. As pessoas com baixa estima também acabam mantendo ou atraindo relacionamentos desastrosos. A autoestima resume tudo o que acreditamos ser, por isso o autoconhecimento é muito importante para aumentar a autoestima. É um processo gradativo que exige conscientização.
Para pensarmos na Musicoterapia como um tratamento para este ser pósmoderno, nesta sociedade paradoxal e complexa, insensível e sem rumo, desumana, penso que deveríamos primeiramente focar em um resgate da sua consciência e da sua individualidade e também em um reforço da sua autoestima. Muito importante também, é sabermos que hoje em dia, estamos nesse processo industrial completamente insensível. Tudo é feito visando um lucro financeiro, não importando se as pessoas estão morrendo de fome ou sem moradia, chegando-se ao cúmulo de destruir frutas, produtos alimentícios, aves do abatedouro, quando a produção está excedendo os limites e os preços ameaçam tornarem-se mais baixo. Pareceme que todos nos somos prisioneiros, conscientes ou não, de uma sociedade ideológica midiática, em uma cela em que o máximo que é possível fazer para nos convencer de que estamos sendo mais sensíveis e vivendo melhor, é colocar um papel de parede colorido nas paredes. O que podemos fazer? Acredito, mesmo com o risco de parecer idealista demais, que resgatando um pouco da consciência e da individualidade, estaremos contribuindo para que a autoestima seja elevada e consequentemente talvez possamos visualizar alguma possibilidade de que a sensibilidade volte a se mostrar nas ações dos seres humanos pós-modernos.
Para pensarmos de forma mais abrangente nas aplicações terapêuticas das experiências Musicais expostas por Bruscia relacionadas ao foco deste nosso trabalho, e para pensarmos nos cuidados com as pessoas com Parkinsonismo integrando aspectos físicos, mentais, sociais e sexuais, inseridos em um ambiente físico, social e econômico favorável, nos reportamos as pesquisas de Ruud:
”O homem tem a sua existência em um contexto humano”. Ele afirma que a única espécie de homem é representada através de sua existência sempre em relacionamento com os seus semelhantes. “O homem está ciente”. Aqui o foco incide sobre o conhecimento, a percepção do homem. A natureza contínua do conhecimento é considerada essencial para a compreensão da experiência humana. “O homem tem uma escolha”. A escolha é um dado da experiência. O homem não é um mero espectador de suas ações, porém um participante da experiência. “O homem é intencional”. O homem em suas escolhas demonstra a sua intenção. A psicologia humanista afirma que o homem busca tranqüilidade e o equilíbrio, porem simultaneamente, também busca a diversidade e o desequilibro. Com o conhecimento destes postulados que, segundo Burgental (apud RUUD, 1990, p. 65) são pontos importantes da psicologia humanista, poderemos ter uma visão ampliada de como tratar a pessoa idosa doente de Parkinsonismo, essa pessoa que já tem uma experiência vivida Ruud (1990) também enfatiza a importância da utilização da música para fins terapêuticos. Relata que o uso da música para fins curativos não é uma novidade e que a Musicoterapia, vista como uma possibilidade de tratamento de saúde tem sido divulgada e tem recebido credibilidade científica.
O campo de atuação da Musicoterapia refletiu sempre uma estreita relação com diversas orientações encontradas na psicologia e na filosofia. Se bem que o objetivo final da Musicoterapia, enquanto profissão de tratamento, seja sua afirmação como disciplina própria, até o momento tem sido amplamente necessária fundamentar seus processos básicos em teorias prevalecentes na psicologia e outras filosofias de tratamento. Pode-se afirmar que o campo de atuação de tratamento psiquiátrico e psicológico está dividido, aproximadamente, em quatro abordagens usuais: a biológica, a behaviorista, a psicodinâmica e a humanista. O musicoterapeuta, através da escolha de um método, relaciona-se direta ou indiretamente a uma ou mais dessas abordagens (RUUD, 1990 p.11).
Segundo BENENZON, tudo no universo é ritmo, melodia, harmonia, e estruturando todo esse conjunto no paciente, então a vida dele também tenderá a se estruturar, (BENENZON, 1985). A partir disto, podemos afirmar que a música se constitui numa das possibilidades do indivíduo construir uma ponte de comunicação na construção das suas relações e possibilitar uma melhor percepção de si mesmo e consequentemente, um aumento da autoestima, da liberdade, da consciência, etc.
LEINIG (2008) relata que o ritmo biológico e o ritmo musical podem entrar em sincronismo. A autora continua dizendo que pesquisadores relatam observações feitas nas variações das funções orgânicas provocadas por elementos Musicais, ressaltando o ritmo, que podem provocar efeitos positivos ou negativos. Os efeitos positivos que esses elementos podem provocar são de revigorar, energizar, aumentar a força física, repousar, eliminar a fadiga produzindo bem-estar. O ritmo pode também normalizar a respiração e o batimento cardíaco. Diz ainda que o homem é um ser essencialmente rítmico, porque existe ritmo no caminhar, na fala, no batimento cardíaco, e também em seus hemisférios cerebrais que estão sempre em oscilação. Aí está, a meu entender, uma forma de contribuir para que a consciência do novo homem, se eleve um pouquinho…
REFERENCIAS:
ARAUJO, Antonio Carlos Alves de. Autoestima – Estudo psicológico,2004
BENENZON, Rolando O. Manual de Musicoterapia. Rio de Janeiro. Enelivros. 1985
DUARTE JR., João Francisco. O Sentido dos Sentidos, 2001
LEINIG, Clotilde Espínola. A música e a ciência se encontram. Curitiba. Juruá, 2008.
RUUD, Even. Caminhos da Musicoterapia. São Paulo, Summus.1990.
ZAGO, Rosemeire. A autoestima. 2003.