Ana Dionísia de souza Aquino
Ludmilla Paniago Nogueira
Neide Figueiredo de Souza
A rotina na Educação Infantil deve ser um momento prazeroso para a criança pequena, não é repetição mecânica, como numa fábrica de automação, deve ser realizada de forma que as crianças queiram repeti-la.
Segundo Kishimoto (2012, p.112): “Em uma sala vazia uma criança não pode exercer atividade livre; sua liberdade cresce na medida em que lhe são oferecidas possibilidades de ação, isto é, opções”.
A sala de maternal apresenta uma rotina, uma sequência de atividades, mas com vistas ao inusitado, ao imprevisível, ao diferente, que devem ser considerados pela professora de crianças. Por outro lado, a rigidez e inflexibilidade também marcaram alguns momentos de minha observação. Contudo, eles são limitadores dos potenciais de desenvolvimento das crianças, que, nesses momentos, não são desafiadas a pensar, tomar decisões, participar. Alguns desses momentos mostram vestígios de que o controle e a ação adultocêntrica limitam as possibilidades de ação das crianças; por exemplo, quando elas esperam, no intervalo do lanche, sentadas no corredor, sob a tutela do apoio de sala.
Ao analisar sobre as flexibilidades na rotina, percebe-se as diferentes atividades que se desenvolvem com as crianças, envolvendo a hora da acolhida, da oração, da ludicidade, a brinquedoteca, a contação de histórias, as rodas de conversa. É fácil perceber, no entanto, que as atividades são sempre dirigidas por ela. É importante que se estabeleça um clima de cordialidade e de confiança na organização dos espaços e da rotina como um todo, para que as crianças sintam-se tranquilas, acolhidas e com liberdade para agirem e interagirem de forma autônoma a fim de satisfazerem suas necessidades. Percebe-se que há planejamento, mas com flexibilidade e respeito aos diferentes ritmos e necessidades das crianças.
Andrade (2007) aponta para o aspecto positivo de certa previsibilidade nas rotinas para as crianças pequenas que conseguem organizar-se, sentirem-se confiantes sabendo do que virá a acontecer. Isso claro, dentro de certa flexibilidade, respeito pela criança; em que a rotina não é algo imposto, numa relação vertical, do adulto sobre ela.
Benjamin (2009) aponta que a repetição para a criança pequena tem um significado, deve significar satisfação em repetir o que lhe causa prazer, por isso ela gosta de repetir as mesmas brincadeiras e atividades que lhe satisfazem.
É importante que a professora, ao organizar sua prática pedagógica, pense e se preocupe com a organização dos ambientes, de modo a reconhecer, respeitar e valorizar as características das crianças, priorizando a ludicidade, a estética e a ética, nas relações entre os pares e entre adultos e crianças, fundamentais nessa fase de desenvolvimento da vida das crianças pequenas (BARBOSA, 2009).
Para Oliveira (2005), o adulto é o mediador, o organizador básico da relação da criança com o ambiente. Contudo, ele não deve ser considerado o único. Nesse sentido, aponta a pesquisadora, é fundamental que essa pessoa, a professora, tenha a sensibilidade ao organizar esse espaço ambiente, de forma que seja instigante e motivador; que os recursos que sejam postos à disposição da criança lhe possibilitem agir, questionar, interagir, brincar, explorar, participar de forma a exercitar a autonomia e não apenas executar tarefas.
Andrade (2007) afirma que a repetição (mas não a simples repetição), a previsibilidade, a rotina e a organização geram certo conforto nas crianças, elas têm sua importância, pois ajudam a estruturar o psiquismo humano; e afirma: “Se não fosse pela rotina, a criança não conseguiria se localizar no mundo […]”. Contudo, o que não é admissível é a supervalorização da ordem, que anula as peculiaridades da infância, isso sim, segundo a autora, “[…] é um problema, sobretudo quando se pensa no potencial emancipatório da educação” (ANDRADE, 2007, p. 99).
REFERÊNCIAS
ANDRADE, D.B.S.F. A educação infantil como espaço narrativo. (no prelo). 2011.
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. (Consultora). Práticas Cotidianas na Educação Infantil – Bases para a reflexão sobre as Orientações Curriculares. Projeto de Cooperação Técnica MEC e UFRGS para construção de Orientações Curriculares para a Educação Infantil. Brasília, 2009. Ministério da Educação – Secretaria de Educação Básica e Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. 2ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 2009.
KISHIMOTO, T.M. (org.). O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning. 2002.
KISHIMOTO. T.M. (org). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 12ª ed. São Paulo: Cortez, 2009.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002, p. 92-95.