Por Neide Rossi, Simone Batista Campos, Ludmilla Paniago Nogueira, Maria Zilda da Silva Barbosa e Maryanah Silva Barbosa
Logo após o nascimento os bebês necessitam de estímulos que desenvolvam os sentidos do tato, paladar, visão, audição, e respondem aos estímulos com o corpo ao enrijecer-se ou enrugar-se de tensão, prazer ou sofrimento. O contato visual também é importante para a comunicação social e constitui uma habilidade exercitada a vida inteira.
A aquisição e construção da linguagem oral implicam a verbalização e a negociação de sentidos entre os participantes do diálogo. A apropriação da linguagem ocorre durante atos em que também “falam” os gestos, os olhares, a postura corporal, o corpo como um todo. O professores da Educação Infantil devem valorizar os movimentos, os gestos e a expressividade facial porque constituem um sistema de comunicação e estabelecem as bases para desenvolvimento da linguagem.
A linguagem oral é adquirida diante as situações que escutam, com isso cabe à escola criar situações de escuta e de fala. A primeira forma de socialização da criança é a linguagem e, na maioria das vezes, é efetuada pelos pais através que se utilizam de instruções verbais durante atividades diárias, assim como através de histórias que expressam valores culturais. Através da linguagem pode ocorrer a socialização e é por isso que a criança tem acesso, antes mesmo de aprender a falar, a valores, crenças e regras adquirindo os conhecimentos de sua cultura. Com o desenvolvimento da criança, seu campo de socialização se estende seu sistema sensorial, incluindo a visão e audição, se torna mais refinado e ela alcança um nível linguístico e cognitivo mais elevado, principalmente quando ela entra para escola e tem maior oportunidade de interagir com outras crianças. O desenvolvimento da capacidade de comunicação da criança ocorre com sua participação frequente nessas atividades. Deve-se, cautelosamente, passar das situações informais para as formais. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais “eleger a língua oral como conteúdo escolar exige o planejamento da ação pedagógica de forma a garantir, na sala de aula, atividades sistemáticas de fala, escrita e reflexão sobre a língua” (PCN – LP, 1998, p. 49).
No tocante ao trabalho com a modalidade oral, os PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL/MEC, 1998) afirmam a necessidade de seu desenvolvimento na medida em que os alunos serão avaliados na hora de responder a diferentes exigências de fala e de adequação às características próprias de diferentes gêneros do oral. O referido documento faz uma abordagem no que tange a língua oral, (PCN, 1998: 67). Ensinar língua oral deve significar para a escola possibilitar acesso a usos da linguagem mais formalizados e convencionais, que exijam controle mais consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a importância que o domínio da palavra pública tem no exercício da cidadania. Ensinar língua oral não significa trabalhar a capacidade de falar em geral. Significa desenvolver o domínio dos gêneros que apoiam a aprendizagem escolar de Língua Portuguesa e de outras áreas e, também, os gêneros da vida pública no sentido mais amplo do termo.
É por isso que a linguagem oral deve ser estimulada ao longo da vida escolar de várias formas, através de apresentações de trabalhos orais, recitação de poemas, na leitura de textos e discussões em grupo sobre determinados temas propostos pelo professor. Esse tipo de trabalho estimula a oralidade, fazendo com que o aluno se expresse sem compromisso, sendo o mais espontâneo possível, mas nunca se esquecendo de contextualizar a linguagem com a situação da fala, momentos que exigem linguagem formal e momentos em que se pode fazer uso da língua na forma coloquial.
Os marcos referenciais ainda destacam que:
A linguagem verbal possibilita ao homem representar a realidade física e social e, desde o momento em que é aprendida, conserva um vínculo muito estreito com o pensamento. Possibilita não só a representação e a regulação do pensamento e da ação, próprios e alheios, mas, também, comunicar ideias, pensamentos e intenções de diversas naturezas e, desse modo, influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais anteriormente inexistentes. Essas diferentes dimensões da linguagem não se excluem: não é possível dizer algo a alguém sem ter o que dizer. E ter o que dizer, por sua vez, só é possível a partir das representações construídas sobre mundo. Também a comunicação com as pessoas permite a construção de novos modos de compreender o mundo, de novas representações sobre ele. A linguagem, por realizar-se na interação verbal dos interlocutores, não pode ser compreendida sem que se considere o seu vínculo com a situação concreta de produção. É no interior do funcionamento da linguagem que é possível compreender o modo desse funcionamento. Produzindo linguagem, aprende-se linguagem (BRASIL, 1998, p. 22). As habilidades de escuta e fala, para serem desenvolvidas, são necessárias conversas dirigidas em sala de aula, mas é preciso criar regras para que as conversas ocorram sem atropelos, preservando-se, contudo, a naturalidade da participação. E isso se consegue com exemplificações. A linguagem oral deve ser planificada em experiências organizadas a fim de oferecer às crianças reais condições para falar e se fazer compreende, fazendo com que desenvolvam a organização de estruturas de orações, a concordância das palavras, um vocabulário mais rico, pois a expressão oral não é uma habilidade inata, mas, sim um comportamento adquirido no contato do indivíduo com o meio, através da audição, impulsionado pela necessidade e pelo desejo de se comunicar com os que o cercam.
E quando se fala do surgimento da linguagem escrita ele é recente, comparado à fala, tem apenas cinco mil anos, considerando o sistema sumério como o mais antigo meio de apresentação escrita da oralidade. Fago (1993) ressalta algumas consequências trazidas pelo progresso tecnológico e a primazia da linguagem escrita:
A instituição escolar se acha hoje, em um contexto diferente do tradicional, que realmente possuía uma cultura oral e ser valorizada e na qual apoiar-se. O mundo acadêmico parece não se dar conta desta nova situação. […] Todos os aspectos positivos da oralidade foram abandonados, negados e poucos dos da cultura escrita são adquiridos. (Fago, 1993).
Percebe-se que o autor atribui os fracassos do aprendizado da escrita ao distanciamento do oral, ou seja, a não aquisição da cultura escrita, é, na visão de Fago, resultado de um ensino que privilegia esse discurso. Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), no intuito de propor uma reflexão sobre essa situação e consequentemente apontar alguns caminhos, contemplam uma aproximação do ensino da língua escrita à oral. As figuras, ilustrações, espaços gráficos isso tudo auxilia e facilita o leitor a entender, formular uma ideia quase que concreta para o melhor entendimento do texto. Na linguagem falada leva-se em conta os gestos, slides, elementos verbais que tem por si ele objetivo proporcionar o interlocutor a total absorção do conteúdo explicado.
A forma escrita não se limita unicamente à forma impressa, ao contrário, pois em críticas, jornais televisivos ou via rádio existe a linguagem escrita, que nada mais é do que quando alguém fala de forma precisa e coerente o que se tem em tese no papel, até porque podemos contar uma história utilizando a linguagem escrita ainda que ‘contar’ seja uma atividade oral.
Uma característica interessante nas duas linguagens é que na linguagem oral pode se usar dos gestos, seguidos de exemplos, já na linguagem escrita isso não acontece. Castilho (2000) defende que a linguagem oral deve ser incorporada às aulas de língua materna já que “o aluno não procede de um meio letrado. (…) o ponto inicial para a reflexão gramatical deve ser utilizado o conhecimento linguístico de que os alunos dispõem ao chegar à escola: a conversação” (CASTILHO, 2000: 21). Nas relações entre língua falada e língua escrita, entende-se um ensino voltado não para o traçado de características de uma modalidade oposta à outra, mas do “emparelhamento da língua falada e da língua escrita”. Para isso, (2000: 24), o professor deve proceder a uma análise combinando gêneros textuais, atividade que pode promover uma compreensão das relações do contínuo da fala-escrita. OS avanços de estudos na compreensão da linguagem nas últimas décadas, no tocante ao estudo da língua falada, e sua incorporação pelo discurso oficial, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais principalmente, têm desestabilizado a tradição escolar.
A passagem do código oral para o escrito na vida da criança ocorre aos poucos, a criança vai percebendo esta transição do repertório oral, já incorporado a seu dia a dia, para a linguagem escrita. E, com isso, o livro nesta troca efetiva de saber, adquiri um valor lúdico, pois a brincadeira, antes cantada ou falada pelos entes queridos, passa agora, então, a ser registrada num código que a criança desconhece, mas é estimulada a conhecer. Portanto, o livro ganha uma dimensão prazerosas e um lugar de destaque no baú de brinquedos da criança. E o professor atento a esse mecanismo de passagem e dispondo de uma vasta e séria bibliografia deve valorizar, nesta fase, principalmente, o discurso poético como forma de manter a magia do universo infantil. O Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (RCNEI) busca elabora o melhor método de alfabetização.
Pesquisas realizadas, nas últimas décadas, baseadas na análise de produções das crianças e das práticas correntes, têm apontado novas direções no que se refere ao ensino e à aprendizagem da linguagem oral e escrita, considerando a perspectiva da criança que aprende. Ao se considerar as crianças ativas na construção de conhecimentos e não receptoras passivas de informações há uma transformação substancial na forma de compreender como elas aprendem a falar, a ler e a escrever. A linguagem oral possibilita comunicar ideias, pensamentos e intenções de diversas naturezas, influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais. Seu aprendizado acontece dentro de um contexto. As palavras só têm sentido em enunciados e textos que significam e são significados por situações. A linguagem não é apenas vocabulário, lista de palavras ou sentenças. É por meio do diálogo que a comunicação acontece. São os sujeitos em interações singulares que atribuem sentidos únicos às falas. A linguagem não é homogênea: há variedades de falas, diferenças nos graus de formalidade e nas convenções do que se pode e deve falar em determinadas situações comunicativas. Quanto mais as crianças puderem falar em situações diferentes, como contar o que lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado, explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira significativa (BRASIL, 1998).
Bakhtin (2006) apud Miranda (2012) afirma: A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivenciar. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida. Percebe-se que com a linguagem oral a criança se relaciona com o mundo que a cerca ela parte a fazer parte da cultura de um determinado grupo social.
É importante ressaltar ainda que os meios de comunicação de massa e a massificação da cultura acabam destruindo esse diálogo tão fértil com o passado e com a voz mágica da infância e promovendo uma sociedade estereotipada, privada do seu próprio discurso. Diante dessas circunstâncias e como um motivo a mais, o professor deve se utilizar da poesia como forma de atenuar essa racionalidade da cultura reificada, incentivando o hábito da leitura intuitiva do mundo. A leitura só ocorre quando o leitor mergulha nas ondas imaginárias do criador e, pegando uma carona, refaz o percurso da criação. Todo grande leitor é recriador do texto e, para isso, necessita aflorar o seu potencial de criatividade
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. RCNEI – Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil – Brasil, 1998.BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.CASTILHO. A. T. A língua falada no ensino de português. 2 ed. São Paulo: Contexto. 2000.CASTILHO. A. T. Entrevista com Ataliba T. Castilho. ReVEL – Revista virtual de Estudos da Linguagem. CIDADE. nº 4, 2005. Disponível em www. (ISSN: 1678-8931) (consultado em dez de 2012).
FRAGO, A.V.Alfabetização na sociedade e na história.Porto Alegre, Artes Médicas, 1993.MIRANDA, Ana Paula Araújo Dini de, Letramento e alfabetização: resgate do papel do professor no ato de aprender e ensinar. 2012. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em. Acesso em 20 fev 2012.